O tempo foi passando, a maioridade chegando e o fascínio e conhecimento pelos opalas aumentando. Aos 18 anos fiz minha CNH, e aos 19 anos passei no vestibular, então meus pais viram que eu precisaria de um carro para estudar, e também para me presentear pelo mérito. Eles me perguntaram: "Vamos comprar um Gol pra você filho?", e eu disse: "Que nada, é muito caro! Quero um Opala e tem que ser dos antigos, abaixo de 1980!". Eu, desde criança gostei de carros antigos, e naquela época carros com essa idade eram considerados velhos e não tinham tanto valor como atualmente.
Na hora eles questionaram, pois comprar um carro "velho" e ainda por cima considerado "beberrão" era um problema para usar todos os dias, mas como eles sabiam da minha adoração pelo modelo acabaram concordando com a idéia. Aí que a procura começou. Como todo "bom adolescente" fui fazer minhas loucuras; Eu e meu amigo Seiji, um outro opaleiro nato, começamos procurando nas cidades vizinhas, perguntando em bares e postos de combustíveis por alguém que possuísse opalas antigos, olhando nas garagens de casas, etc.
Encontrei alguns opalas. Em Contenda-Pr, achei um sedan especial 2500 rosê 1972, precisava de uma reforma, mas não quis me precipitar e continuei procurando. Não encontrando nada fora, decidimos procurar em minha cidade mesmo, em Araucária-Pr, no mesmo esquema, perguntando e olhando de garagem em garagem.
Um dia avistamos em uma garagem outro sedan especial 2500, porém azul 1974, e fomos conversar com o dono. Conversa vai e vem e ele manifestou seu desinteresse em vender o opala, falando o seguinte: "Olha meu jovem, eu não quero vender meu carro porque gosto dele, mas tem a dona Lourdes que mora ali para baixo na próxima quadra, e tem um opala branco que dificilmente eu vejo ela usar". Nos despedimos rapidamente do senhor e fomos correndo falar com essa tal de Lourdes. Para a minha surpresa, ela era uma conhecida de minha família e eu nem sabia que ela tinha um opala.
Começamos a conversar e logo perguntei sobre o opala branco, se ela gostaria de vendê-lo, etc, então ela me falou: "Sabe Ayrton, esse carro é uma herança que ficou para eu e meu irmão Celso. Ele era do meu pai, que já faleceu a mais de 9 anos (isso naquela época). Eu não uso ele porque toda vez que usava e parava na rua enchia de gente em volta pra olhar, daí só saio com o meu golzinho mesmo".
Ela me explicou que precisava falar com o irmão primeiro para decidirem se venderiam o carro ou não. Como não era a sua intenção de vender, ela nem me mostrou o carro, até porque eu também nem pedi, pra não demonstrar ansiedade, e na verdade estava quase tendo um filho de tanta vontade de ver o opala.
O tempo foi passando e nada dela me ligar. Acabei perdendo as esperanças e comecei a procurar outro opala. Encontrei também em Araucária mais um sedan, desta vez um De Luxo 2500 amarelo Gran Prix 1974 de um senhor. O carro estava impecável! Pintura ótima, todos os frisos de caixa de ar, paralamas e grades perfeitos. Fiquei louco! Era esse o opala que iria comprar! Comecei a negociação e só convenci o senhor de trocar o seu opala com uma saveiro 87 que meu pai havia pego em um acerto de contas. Quando o negócio estava praticamente fechado, adivinha quem me liga?? A dona Lourdes dizendo para eu ir na casa dela ver o opala porque iria me vender se ainda tivesse interesse.
Fiquei em um dilema: será que vou ver esse opala, justo agora que praticamente fechei negócio com outro senhor? Decidi ir ver, já que ela havia falado que não usava o opala porque chamava muito a atenção, então pensei que poderia estar bonito mesmo.
Fui até a sua casa, apertei a campainha e enquanto aguardava ela, conseguia ver só o vulto do opala através da porta de vidro jateado da garagem. A dona Lourdes me atendeu e perguntou: "Quer ver o opala?". Nem precisava perguntar, respondi rapidamente sim e fui entrando na garagem. Quando vi o carro, um sedan 1971 De Luxo 2500, tive a mesma sensação de 8 anos atrás quando vi pela primeira vez o Comodoro cupê 4100! Comecei a andar em volta do carro e não achava nada de errado, tinha apenas um pequeno amassado no friso da caixa de ar, provavelmente por ter escorregado o macaco e batido ali. Abri a porta e para o meu espanto encontrei algo que nunca havia visto antes em outros opalas: Interior todo em azul! Carpete em veludo azul, puxador de porta azul, forro do teto azul, banco de vinil azul..... Sentei no banco, olhei para o painel e quase tive um infarto! Perguntei a dona Lourdes: "Essa quilometragem é original?", e para o meu espanto ela me confirmou: 24 mil e poucos quilômetros originais de fábrica! Abri o porta luvas e lá estava o manual com o certificado de garantia e o livreto de revisões feito apenas a primeira gratuita.
Empurramos o carro para fora da garagem para funcioná-lo, mas estava sem bateria. Fui até a auto peças e comprei uma bateria nova, instalei, joguei um pouco de gasolina no carburador e nada. Chamamos um mecânico, o mais antigo aqui da cidade, o Dante Suckow. Ele chegou e falou pra Lourdes: "Ô Lourdes, porque você não me falou que estava vendendo o opala, porque senão eu teria comprado!". O Dante apenas tirou a tampa do distribuidor e passou uma lixa pra tirar o zinabre do platinado. Bati na partida e "nhé, nhé.... vrummm", o bicho pegou na segunda virada!
Negócio fechado, estava indo embora e ela pediu para esperar que tinha mais umas coisas do carro. Ela me trouxe a chave reserva e um embrulho de jornal. Abri o embrulho e adivinha o que tinha lá? As palhetas do limpador originais em inox! Ela trocou e decidiu guardar as originais porque as novas pretas ficavam estranhas. E uma coisa que todos me perguntam; "quanto vc pagou pelo opala?". Ela queria me vender por R$4.000,00, mas acabou fazendo por R$3.950,00. Os R$50,00 ela descontou por causa da bateria que tive que comprar. Será que fiz um bom negócio? hehehehe..... Mas como havia dito antes, nessa época ninguém dava muito valor para carros antigos.
Daí ela me contou a história da compra do carro pelo pai dela. O opala foi adquirido em SP na Vilamar Veículos porque na época a diferença de preço em relação a Curitiba era grande. Ela lembra que nessa concessionária havia vários opalas estacionados em forma oval dentro da agência em cima de um desenho do globo terreste com uma faixa escrito o seguinte slogan: "Planeta dos Opalas".
Assinado os recibos, e já com o opala em casa comecei a planejar a sua "mudança". Colocação do motor 4100 4 polegadas a álcool, tripla Weber 40, troca do câmbio para o assoalho e junto o banco de inteiriço para individual, adaptação de freios a disco nas quatro rodas, troca do diferencial pelo do Maverick, troca de rodas pela do Omega GLS (na época ninguém tinha) e rebaixar a suspensão.
Enquanto procurava todas essas peças, gostava de participar dos encontros de opalas aqui em Curitiba. Um dos primeiros que fui era o do pessoal do Posto Caipirão, lá no Parque Tanguá. Naquele dia fiquei indignado com a resposta do organizador dos encontros (não vou citar nomes, mas quem é daqui sabe quem é): "Muito bonito esse opala, pena que é quatro cilindros". No primeiro momento, concordei com ele, afinal de contas meu sonho era ter um 6 cilindros forte.
Continuei participando de outros encontros de antigos, como o que acontecia no pátio da Cassol à noite (faz tempo heim!....hehe), fui no de Águas de Lindóia, em MG, e muitos outros. Olhava para os outros opalas antigos e comecei a cair na real. Até aquele momento não percebia que tinha uma relíquia nas mãos, pensava que meu opala estava apenas inteiro, não imaginava que aquele seu interior azul fosse tão difícil de se encontrar, que aquelas calotas em inox sem amassados fossem raros e nem me liguei que dois de seus pneus linguiça diagonais e o estepe ainda eram originais.
Um dia andando em Araucária, um velho senhor amigo do seu Francisco, o falecido antigo dono de meu carro, contou mais sobre a história do carro. O seu Francisco usava o opala apenas para raros passeios e levar a família para a missa nos domingos, e quando chovia, o opala ficava na garagem e todos iam andando de guarda-chuva mesmo.
Pronto, nesse momento percebi a burrada que teria feito com aquele opala. Já havia executado algumas mudanças..... tinha rebaixado e trocado as rodas pelas GLS, mas nada que não pudesse ser desfeito. Molas novas, pneus diagonais com faixa branca, tudo novamente no seu devido lugar. Agora o meu xodó sai da garagem apenas para eventos mais importantes.
Alguns anos depois de ter comprado o opala. saí com ele e fui até a oficina do meu amigo e restaurador do meu outro opala, um Gran Luxo 4100 cupê 1974. Por ironia do destino a oficina fica em frente da casa da dona Lourdes. Como ela viu o opala estacionado, foi conversar comigo e ficou muito feliz em ver que ele está do mesmo jeito de quando era dela. Mas o melhor foi o presente que ela me deu: O chaveiro da concessionária em formato oval escrito "VILAMAR" na frente e atrás "PLANETA DOS OPALAS". Ela me disse que estava fazendo uma faxina na casa, arrumando as gavetas, e acabou encontrando o chaveiro. Como ela não tinha mais o carro, guardou o chaveiro para me entregar na primeira oportunidade que tivesse, pois sabia que freqüentemente eu ia ver o meu Gran Luxo.
E por falar em Gran Luxo, tem também a história de minha Caravan 4100 De Luxo 1978 de R$2.000,00 e que hoje está com uma FuelTech, cabeçote de omega, caixa Eaton-Clark 2205, diferencial de maverick...... mas essas são outras histórias.........
Abraço a todos os amigos opaleiros!
Ayrton Takada
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