2. O sistema de ar condicionado do OpalaÉ muito importante que a pessoa que se propuser a fazer a manutenção do sistema de ar condicionado do Opala tenha um conhecimento básico do funcionamento de um sistema de AC automotivo. Algumas coisas são até óbvias, mas outras, contra-intuitivas. Por isso, creio ser interessante discutir aqui alguns detalhes específicos do sistema de AC do Opala.
O Opala utiliza um sistema de AC bastante convencional, chamado pela Chevrolet de CCOT (Cycling Clutch Orifice Tube), cujo nome vem do sistema usar um "tubo de orifício" (orifice tube) de dimensões fixas para fazer a expansão do fluido refrigerante e uma "embreagem ciclante" (cycling clutch), para acoplar/desacoplar periodicamente o compressor ao motor do carro.
Durante a operação, o fluido refrigerante circula no sentido indicado pelas setas. O responsável pela circulação do fluido refrigerante é o
compressor, que bombeia o fluido refrigerante na forma gasosa.
É importante saber que o compressor nunca deve bombear o fluido refrigerante na forma líquida, pois isso levaria à sua rápida destruição.No diagrama mostrado acima, o fluido refrigerante é representado em vermelho e azul escuros quando no estado líquido escuro, e em rosa e azul claros, quando na forma gasosa. A cor vermelha/rosa indica alta pressão, enquanto a cor azul, baixa pressão.
Comentando de passagem, a palavra "gás", comumente usada para designar o fluido refrigerante, é inadequada porque ambos os estados, líquido e gasoso, convivem dentro do sistema.Talvez um bom ponto de partida para acompanhar o fluxo do fluido refrigerante através do sistema seja a linha de saída (descarga) do
condensador. Nesse ponto, o fluido refrigerante está totalmente na forma líquida e a uma temperatura e pressão relativamente altas (temperatura acima de 50 ºC e pressão entre 150 e 300 psi).
Da saída do condensador, o fluido refrigerante segue para o dispositivo chamado de
tubo de orifício, que tem como uma de suas funções básicas a de controlar o fluxo de fluido refrigerante que entra no evaporador. Note que o fluido refrigerante entra no evaporador pelo lado de baixo.
O tubo de orifício serve para restringir a passagem do fluido refrigerante, mas a sua função principal é produzir uma redução brusca da pressão. Com a redução de pressão, o fluido refrigerante entra em ebulição, produzindo vapor, e há um abaixamento rápido de temperatura, que é justamente o efeito desejado.
A figura abaixo mostra como um tubo de orifício real é construído:
Para entrar no tubo de orifício, o fluido refrigerante tem que passar por uma malha fina, que funciona como um filtro para bloquear eventuais partículas que venham junto com o fluido refrigerante. Essas partículas podem ser pequenas partículas de metal ou borracha que se desprenderam do compressor, das mangueiras, etc. É importante que essas partículas sejam retidas porque elas poderiam entupir o tubo de orifício ou o próprio evaporador.
Depois de passar pelo tubo de orifício, o fluido refrigerante chega ao evaporador. No Opala, o evaporador é do tipo chamado de
fluxo paralelo:
Para uma dada capacidade de troca de calor, os evaporadores de fluxo paralelo são menores que os evapores do tipo mais antigo chamado de
serpentina.
O fluido refrigerante em baixa temperatura resfria as paredes do evaporador, que por sua vez, resfria o ar vindo da cabine do veículo. Associado ao evaporador há um ventilador (ou "ventoinha") e um duto com uma porta de entrada, por onde é aspirado o ar da cabine, que passa então pelas ranhuras do evaporador e volta resfriado à cabine através da porta de saída do duto da caixa do evaporador.
Importante:
A temperatura do evaporador NUNCA deve descer até 0 ºC porque isso iria criar gelo na superfície do evaporador, bloqueando a passagem de ar e, consequentemente, prejudicando a operação do sistema.Como dissemos acima, o fluido refrigerante entra no evaporador em forma parcialmente líquida e parcialmente gasosa. É a parte liquida do fluido refrigerante que efetivamente "trabalha", ou seja, remove o calor. Num sistema bem dimensionado, o interior do evaporador deve estar inundado na maior parte (~70%) de fluido refrigerante em forma líquida. Uma baixa carga de refrigerante, p.ex., não consegue "molhar" todo o interior do evaporador e a capacidade de refrigeração do sistema fica diminuída.
Conforme o fluido refrigerante na forma líquida vai percorrendo o acumulador, o fluido vai "fervendo" e passando gradativamente para a forma de vapor. Na saída do evaporador espera-se que haja apenas vapor (ou gás), já que
o compressor não pode trabalhar com líquido, sob pena de quebra das válvulas.
Na prática, não é possível garantir a evaporação completa do fluido refrigerante todas as situações. Para evitar que chegue fluido refrigerante em forma líquida no compressor, é colocado na saída do evaporador uma espécie de garrafa chamada de
acumulador.
O segredo do acumulador é um tubo em U, onde uma das extremidade é a saída para o compressor. A extremidade aberta do U fica na parte mais alta da garrafa e é por onde entra o fluido refrigerante em forma gasosa.
O acumulador do sistema de AC do Opala tem capacidade de cerca de 1,4 litros, que excede a carga de fluido refrigerante em forma líquida usada pelo sistema. Isso significa que mesmo que todo o fluido refrigerante em foma líquida estivesse concentrado na garrafa, seria praticamente impossível que refrigerante em forma líquida entrasse no tubo em U e fosse sugado pelo compressor.
No ponto mais baixo da curva do U há uma pequeno orifício que serve para captar o óleo lubrificante que possa existir no fundo do acumulador. É através desse orifício que o óleo é succionado de volta para o compressor. Como o orifício é muito pequeno, o óleo é pulverizado ao passar pelo orifício, o que elimina qualquer risco do óleo chegar em forma líquida no compressor.
No fundo do acumulador também existem dois pequenos sacos com dessecante, cujo objetivo é eliminar qualquer traço de umidade que porventura esteja presente junto com o óleo ou fluido refrigerante.
(Parêntese)
Um detalhe intrigante, ao menos para quem tem curiosidade científica, é que ao sair do acumulador, o fluido refrigerante está em baixa temperatura baixa (10 ºC a 20 ºC), mas apresenta MAIOR energia interna ("entalpia") do que quando saiu do condensador em alta temperatura (acima de 50 ºC). Essa constatação vai contra a intuição porque tendemos a associar maior temperatura com maior energia. Por exemplo, todo mundo entende que quando uma porção de água é aquecida numa caldeira e se transforma em vapor, esse vapor tem mais energia que a água fria que alimentou a caldeira. Aliás, essa é justamente a base das máquinas a vapor.O aumento da energia interna do fluido refrigerante ocorre, evidentemente, porque ao passar através do evaporador, o fluido refrigerante acaba absorvendo o calor extraído da cabine de passageiros. Eventualmente, o calor absorvido pelo fluido refrigerante será expulso para a atmosfera através do
condensador e o fluido refrigerante voltará ao estado líquido para ser lançado de volta ao tubo de orifício.
Após passar pelo acumulador, o fluido refrigerante chega em forma gasosa ao
compressor, que é o coração do sistema de AC. No Opala, o compressor original é um Denso, modelo 6P148A. É um compressor do tipo de deslocamento volumétrico fixo, no caso 148 cc, como, aliás, o número 6P148a do modelo sugere.
Para quem interessar, este é o link para o manual de serviço do 6P148A:
https://opaleirosdoparana.forumeiros.com/t47947-compressor-do-ar-condicionado-do-opala-6p148a-manual-de-servicoUma das funções do compressor é, como o próprio nome diz, comprimir o fluido refrigerante em forma gasosa que chega do acumulador. Essa compressão é chamada tecnicamente de
adiabática, que é quando compressão ocorre sem transferência de calor.
Ao ser comprimido, o fluido refrigerante ganha energia e esquenta consideravelmente. A compressão deve ser suficiente forte para que a temperatura ultrapasse significativamente a temperatura ambiente. Na prática, isso significa que o fluido refrigerante em forma gasosa deve ser comprimido até atingir temperaturas entre 50 ºC a 70 ºC.
É justamente a diferença entre a temperatura do fluido comprimido e do ar ambiente que permite que o condensador transfira calor do fluido refrigerante para o ar. A taxa de transferência de calor é proporcional à diferença das temperaturas e à área efetiva do condensador.
A transferência de calor melhora muito quanto há uma movimentação do ar em relação ao condensador, ou vice-versa. Infelizmente, quando o carro está parado (num congestionamento ou num semáforo, p.ex), a velocidade do ar em relação ao condensador é nula (ignorando, é claro, um possível efeito de vento).
Para melhorar a transferência de calor com o carro parado ou em pequena velocidade, utiliza-se um ventilador (ventoinha) acionado por um motor elétrico para produzir uma ventilação forçada do condensador. No Opala, esse ventilador tem a função adicional de melhorar o rendimento do radiador.
Além de comprimir o fluido refrigerante que vem do acumulador em forma de vapor , outra função do compressor é movimentar o fluido através do sistema. Ou seja, o compressor funciona também como uma bomba que bombeia o fluido refrigerante através do circuito. A movimentação do fluido refrigerante é feita de maneira indireta, e só acontece por causa da diferença de pressão criada pelo compressor.
O fluido refrigerante comprimido pelo compressor é enviado ao
condensador, cuja função é abaixar a temperatura do vapor até que condense e retorne à forma líquida. O condensador trabalha, portanto da forma inversa do evaporador. E, ao contrário do que acontece no evaporador - onde o desempenho máximo exige que a maior parte do espaço interno seja preenchido por refrigerante em forma líquida - no condensador é a parte gasosa do fluido refrigerante que deve preencher a maior parte do volume.
O fluido refrigerante "condensado" em forma líquida se acumula na parte mais baixa do condensador. Num sistema com carga adequada, cerca de 1/3 do volume do condensador é ocupado pelo refrigerante em forma líquida. Na saída do condensador não deve haver fluido refrigerante em forma de vapor porque se esse vapor chegasse ao tubo de orifício e entrasse no evaporador, o rendimento do sistema irá diminuir.
O condensador do Opala é do tipo tradicional chamado de
serpentina:
Hoje, a maioria dos carros modernos usa condensador do tipo de fluxo paralelo, que é mais compacto que o de serpentina para o mesmo desempenho. Entretanto, o condensador de serpentina tem suas vantagens. Por ex., é muito menos propenso a entupimentos por contaminações do fluido refrigerante. Note que não há filtro algum na entrada do condensador no sistema de AC do Opala, pois esse filtro é desnecessário.
Comparado com um condensador de fluxo paralelo, um condensador de serpentina também é mais robusto e menos vulnerável a vazamentos provocados por choques de pequenas pedras e outros objetos que sempre existem numa rodovia e que são lançados contra a frente do carro. O condensador é normalmente colocado logo atrás da grade dianteira do carro, ou seja, numa posição bastante vulnerável. É uma situação bem diferente do evaporador, que está muito bem protegido dentro de uma caixa.
Outra vantagem do condensador de serpentina é que permite limpeza interna, enquanto um condensador de fluxo paralelo, não. Se houver, houver falha no compressor e este lançar partículas na linha de saída, provavelmente o condensador de fluxo paralelo terá que ser descartado.
Para completar essa descrição do sistema de AC do Opala, deve-se citar alguns componentes adicionais que não aparecem no diagrama inicial. Começando pelo compressor, o acoplamento com o motor do carro é feito por uma
embreagem eletromagnética comandada por um
módulo de controle eletrônico. O acoplamento do compressor com o motor do carro só ocorre quando uma corrente é enviada ao solenóide da embreagem. Quando o solenóide é desenergizado, a polia do compressor continua a girar, mas o compressor fica parado.
O módulo de controle eletrônico tem a função básica de ligar e desligar a embreagem eletromagnética do compressor, mas para tal, o módulo usa informações fornecidas por sensores e controles do painel de comando.
A foto abaixo mostra o módulo Denso, modelo 077100-0670, usado no sistema de AC do Opala. O módulo original novo ainda pode ser encontrado à venda a baixo preço. A demanda por esse componente deve ser muito baixa, o que explicaria o baixo preço. Provavelmente, a confiabilidade do módulo da Denso deve ser tão elevada que pouquíssimos módulos precisaram ser substituídos nos Opalas fabricados.
Note que o módulo possui dois ajustes, o de RPM, que determina a mínima rotação do motor para acionamento do compressor, e o ajuste TEMP, que determina a temperatura de desligamento do compressor. O ajuste TEMP não deve ser alterado sem critério porque uma ajuste inadequado pode levar à formação de gelo no evaporador, que é algo a ser evitado a todo custo num sistema de AC.
O sensor de temperatura do módulo de controle é um
resistor NTC (Negative Temperature Coefficient), cuja variação de resistência é usada para medir a temperatura do fluxo de ar que sai pelo duto de saída da caixa do evaporador. Quando a temperatura baixa a um certo valor determinado, o módulo de controle desacopla o compressor através do comando à embreagem eletromagnética.
O ajuste TEMP do módulo eletrônico estará corretamente ajustado, a embreagem eletromagnética irá desligar quando a temperatura no ponto em que está o sensor NTC estiver em aproximadamente 2 ºC e o controle de temperatura do console estiver no máximo (totalmente à direita).
Num teste rápido, o NTC usado no meu carro apresentou os seguintes valores de resistência:
t = 10.0 ºC R = 446.2 ohms
t = 26.8 ºC R = 190.0 ohms
Como esperado, a resistência cai com a temperatura.
A resistência de um NTC varia com a temperatura de acordo com a fórmula abaixo, baseada na equação de Steinhart–Hart:
É importante dizer que as temperaturas devem entrar na fórmula em ºK, não em ºC. Entretanto, é muito fácil converter ºC em ºK; basta somar 273.2 ao valor da temperatura em ºC.
A partir das duas medidas de temperatura e resistência acima foi possível calcular o valor do parâmetro B:
B = 4317,5
Conhecendo o valor do parâmetro B e o valor de resistência do NTC para uma dada temperatura, é possível calcular o valor da resistência para qualquer outra temperatura. Por exemplo, para a temperatura de 2 ºC (275.2 ºK), o valor esperado da resistência do NTC é de:
R = 695 ohms
Conhecendo esse valor de resistência, é possível, p. ex., substituir temporariamente o NTC por um resistor fixo de mesmo valor e efetuar o ajuste TEMP do módulo eletrônico sem precisar de uma temperatura física de 2 ºC. Depois do ajuste, obviamente o NTC deve ser reconectado ao módulo eletrônico.
Outra função do módulo eletrônico é impedir o ligamento do compressor quando a pressão na saída do condensador cair abaixo de 30 psi, aproximadamente. Pressão baixa em geral é sinal de falta de fluido refrigerante. Ligar o compressor nessas condições pode levar a desgaste rápido por falta de lubrificação, já que o fluido refrigerante é responsável por trazer de volta o óleo lubrificante que o compressor expele pela linha de descarga.
A monitoração da pressão é feita por um pressostato ligado diretamente ao módulo de controle:
Como informação prática, quando o sistema de AC está desligado e com carga plena de MO49 Plus, a pressão em todos os pontos do sistema está equalizada em torno de 100 psi, para uma temperatura ambiente de 25 ºC.
Outro componente importante do sistema de AC do Opala é a válvula de segurança (alívio) que também aparece na foto acima. A função dessa válvula é aliviar a pressão caso suba para valores excessivos. Não consegui dados da válvula de alívio usada no Opala, mas acredito que o valor de pressão de abertura deve ser algo em torno 500 psi.
Como curiosidade, no Omega, além da válvula de alívio há um interruptor de sobrepressão, que desliga a embreagem do compressor quando a pressão chega a 30 bar, que corresponde a 435 psi. No manual de serviço, a GM também diz que a pressão no condensador do Omega pode chegar a 435 psi. Esse valor também é coerente com a informação da GM de que a linha de alta pressão pode chegar à pressão de 385 psi para temperatura ambiente de 35 ºC.
A tabela abaixo mostra válvulas de alívio para AC automotivo de um determinado fabricante americano:
A pressão de abertura é especificada em 4 MPa, que corresponde a 580 psi. É um valor coerente com a pressão de trabalho das mangueiras de ar condicionado, que geralmente são especificadas para trabalhar continuamente com pressões de até 500 psi (mas que só irão explodir com pressões da ordem de 2000 psi).
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